Não estamos sós.

Caros amigos, o convite de são Tiago: «Irmãos, sede constantes até à vinda do Senhor», recorda-nos que a certeza da grande esperança do mundo nos é doada e que não estamos sós e que não construímos sozinhos a história. Deus não se encontra distante do homem, mas inclinou-se sobre ele e fez-se carne (cf. Tg 1, 14), a fim de que o homem compreenda onde reside o sólido fundamento de tudo, o cumprimento das suas aspirações mais profundas: em Cristo (cf. Exort. apost. pós-sin. Verbum Domini10). A paciência é a virtude daqueles que confiam nesta presença na história, que não se deixam vencer pela tentação de depositar toda a esperança no imediato, em perspectivas puramente horizontais, em programas tecnicamente perfeitos, mas distantes da realidade mais profunda, aquela que confere a dignidade mais excelsa à pessoa humana: a dimensão transcendente, ser criatura à imagem e semelhança de Deus, trazer no coração o desejo de se elevar a Ele.

(Papa Bento XVI, Homilía aos universitários, aos 15 de dezembro de 2011.)

Não estamos sozinhos.

Nas tribulações e dificuldades, não estamos sozinhos; não está sozinha a família: Jesus está presente com o seu amor, sustenta-a com a sua graça e dá-lhe a força para prosseguir, enfrentando os sacrifícios e superando qualquer obstáculo. E, quando os desvarios humanos e outras dificuldades põem em risco e ferem a unidade da nossa vida e da nossa família, é para o amor de Cristo que devemos voltar-nos. O mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo encoraja-nos a continuar com esperança. Se forem vividos com Cristo, com fé n’Ele, os dias de tribulação e de prova trazem já dentro de si a luz da ressurreição, a vida nova do mundo ressuscitado, a páscoa de todo o homem que crê na sua Palavra.

Naquele Homem crucificado que é o Filho de Deus, mesmo a própria morte ganha novo significado e orientação, é resgatada e vencida, torna-se passagem para a nova vida: «Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, continua só um grão de trigo; mas, se morrer, então produz muito fruto» (Jo 12, 24). Confiemo-nos à Mãe de Cristo. Ela que acompanhou o seu Filho ao longo da via dolorosa, Ela que esteve aos pés da Cruz na hora da sua morte, Ela que encorajou a Igreja desde o seu nascimento a viver na presença do Senhor, conduza os nossos corações, os corações de todas as famílias, através do vasto mysterium passsionis rumo aomysterium paschale, rumo à luz que irrompe da Ressurreição de Cristo e manifesta a vitória definitiva do amor, da alegria e da vida, sobre o mal, o sofrimento e a morte. Amém.

(Papa Bento XVI, na Via-Sacra no Coliseu, aos 6 de Abril de 2012.)

Dominus mihi adjutor! (Sal 117,6)

Ele diz-nos quem é na realidade o homem e o que ele deve fazer para ser verdadeiramente homem. Ele indica-nos o caminho, e este caminho é a verdade. Ele mesmo é simultaneamente um e outra, sendo por isso também a vida de que todos nós andamos à procura. Ele indica ainda o caminho para além da morte; só quem tem a possibilidade de fazer isto é um verdadeiro mestre de vida. O mesmo se torna visível na imagem do pastor (…) expressão do sonho de uma vida serena e simples, de que as pessoas, na confusão da grande cidade, sentiam saudade. Agora a imagem era lida no âmbito de um novo cenário que lhe conferia um conteúdo mais profundo: « O Senhor é meu pastor, nada me falta […] Mesmo que atravesse vales sombrios, nenhum mal temerei, porque estais comigo » (Sal 23[22], 1.4). O verdadeiro pastor é Aquele que conhece também o caminho que passa pelo vale da morte; Aquele que, mesmo na estrada da derradeira solidão, onde ninguém me pode acompanhar, caminha comigo servindo-me de guia ao atravessá-la: Ele mesmo percorreu esta estrada, desceu ao reino da morte, venceu-a e voltou para nos acompanhar a nós agora e nos dar a certeza de que, juntamente com Ele, acha-se uma passagem. A certeza de que existe Aquele que, mesmo na morte, me acompanha e com o seu «bastão e o seu cajado me conforta», de modo que «não devo temer nenhum mal» (cf. Sal 23[22],4): esta era a nova «esperança» que surgia na vida dos crentes.

(Papa Bento XVI, na Encíclica Spe salvi, de 30 de Novembro de 2007.)

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos.
Peço Vos perdão para os que não crêem,
não adoram, não esperam e não Vos amam.

O ódio, a violência e a morte não têm a última palavra.

Ao drama da Sexta-Feira segue-se o silêncio do Sábado Santo, dia cheio de expectativas e de esperança. Com Maria, a Igreja vigia em oração ao lado do sepulcro, aguardando que se realize o acontecimento glorioso da Ressurreição.

Na Noite Santa da Páscoa tudo se renova em Cristo ressuscitado. De todas as partes da terra elevar-se-á ao céu o cântico do Gloria e do Alleluia, enquanto a luz irromperá nas trevas da noite. No Domingo de Páscoa exultaremos com o Ressuscitado recebendo d’Ele os votos da paz.

(Bem-aventurado Papa João Paulo II, na Audiência Geral de 16 de abril de 2003.)

Silentium magnum in terra.

Um grande silêncio reina hoje sobre a terra; um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o rei dorme. A terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos […]. Vai à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Quer visitar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte. Vai libertar Adão do cativeiro da morte. Ele que é ao mesmo tempo seu Deus e seu filho […] “Eu sou o teu Deus, que por ti me fiz teu filho […] Desperta tu que dormes, porque Eu não te criei para que permaneças cativo no reino dos mortos: levanta-te de entre os mortos; Eu sou a vida dos mortos“.

(Antiga homilia para Sábado Santo, citada no Catecismo da Igreja Católica, n. 635.)

O Profeta Isaías diz que no silêncio e na esperança reside nossa fortaleza (Is 30,15). Quando o Senhor silencia, e a noite e a solidão dominam nossa vida e inundam nosso coração, é que o Senhor nos vem visitar nas profundezas da nossa alma, ali onde apenas a luz da Fé alcança (e os joelhos da razão e dos sentidos se dobram). Ele vem e nos chama pelo nome como um pai chama por seu filho e o filho reconhece sua voz (Jo 10,3); Ele passa (Páscoa significa passagem, êxodo) para abrir as águas do mar intransponível que nos separam da nossa liberdade. Mas Ele não apenas vem e passa: Ele estabelece Sua morada em nós (Jo 14,23). Como? No silêncio da Fé, que nos faz esperar o que ainda não ouvimos, nem vimos com os nossos olhos, não contemplamos e nem as nossas mãos apalparam (1Jo 1,3), reside toda a nossa fortaleza, porque o Autor da Vida morto, reina vivo! “Mas é tão difícil crer sem ver”, dirá alguém. Quem crê apenas pelo que vê condena-se a uma fé do tamanho do próprio nariz, sim, porque é ele que porta os óculos quando os olhos falham. Mas quando o discípulo amado chegou ao sepulchro e o viu vazio, então ele passou a crer (Jo 20,8). Praestet fides supplementum sensuum defectui: “Venha a fé, por suplemento, os sentidos completar”. Ninguém nunca viu o Amor. E portanto, porque o Amor nos amou – quando ainda eramos pecado – Ele se deixou crucificar para nos libertar da pena imensa que pesa sobre os nossos ombros débeis.

«Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, tende piedade de mim, pecador!»

Diligatis invicem, sicut dilexi vos (Jo 15,12).

A fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).

(Papa Bento XVI, na Mensagem para a Quaresma de 2013.)